Caso de mulher que foi drogada pelo marido para ser estuprada entra em reta final
O julgamento de estupro coletivo de Gisèle Pelicot chegou à fase final nesta terça-feira (19), na França, com o depoimento do último réu. Identificado como Philippe, o homem compõe a lista dos 51 acusados de abusar de Gisèle – que foi dopada por uma década pelo próprio marido, Dominique Pelicot, para que outros homens pudessem estuprá-la.
Atendendo ao convite, Philippe foi para o endereço, onde foi recepcionado por Dominique. Na entrada, ele teria dito que a esposa estava dormindo, pois havia tomado pílulas para dormir como parte de um “jogo sexual”. Philippe disse que ficou “surpreso” com a situação, mas que Dominique insistiu que ele tivesse relações com Gisèle.
Em determinado momento, Gisèle começou a se mexer, o que, segundo Philippe, teria deixado Dominique um pouco tenso. Ele disse que foi neste momento que decidiu se vestir e sair da casa. O depoimento abriu espaço para o advogado de Gisèle mostrar um vídeo do abuso – gravado por Dominique –, no qual ela aparece “claramente roncando”.
“Eu coloquei minha consciência de lado. Eu estava pensando com meu órgão sexual em vez de com meu cérebro”, disse Philippe. “Estou expressando meu pesar à Sra. Pelicot. Só percebi quando estava na prisão que deveria ter feito alguma coisa”, acrescentou.
Relembre o caso
O caso que chocou a França foi descoberto por acaso. Em 2020, Dominique Pelicot foi denunciado por tentar filmar a parte íntima de três mulheres em um supermercado. Ao ser investigado, os policiais encontraram milhares de fotos e vídeos da esposa do aposentado, visivelmente inconsciente, sendo abusada por estranhos na casa da família.
Ao continuar revistando o computador de Dominique, os investigadores descobriram que o aposentado oferecia sexo com a esposa por meio de um site. Várias conversas entre ele e homens que aceitaram o convite foram identificadas. Eles tinham entre 21 e 68 anos e, segundo o idoso, tinham conhecimento de que a mulher estaria inconsciente.
No total, foram registrados 92 estupros cometidos por 72 homens contra Gisèle, num período de 10 anos (2011 – 2020). Até o momento, no entanto, apenas 50 homens foram localizados e processados, podendo pegar penas de até 20 anos de prisão. Segundo a Justiça francesa, estima-se que o julgamento termine em dezembro deste ano.
Renúncia ao anonimato
Apesar do caso perturbador, Gisèle renunciou ao anonimato e pediu que o julgamento fosse aberto ao público. A decisão causou admiração, já que milhares dos vídeos em que a francesa aparece sendo abusada foram reproduzidos nas audiências. O cenário também abriu espaço para julgamentos, com pessoas acusando-a de ser cúmplice do marido.
“Desde que cheguei a este tribunal, sinto-me humilhada por me chamarem de alcoólatra e dizerem que sou cúmplice do senhor Pelicot. Fiquei em coma e os vídeos podem atestar isso. Até os especialistas, todos homens, ficaram chocados com esses vídeos. Tenho a impressão de que sou a culpada e que os 50 são vítimas”, disse Gisèle.
“O estupro é uma questão de tempo? Três minutos, uma hora? Estou chocada! Se fosse a mãe ou a irmã deles, teriam a mesma defesa? Vieram me estuprar, não importa quanto tempo tenha passado”, continuou a francesa, em depoimento ao tribunal.
A coragem de Gisèle foi reconhecida ao redor do mundo e desencadeou um amplo debate sobre estupro e submissão química (agressão induzida por drogas). Nesta semana, a francesa foi aplaudida e recebeu flores ao sair do tribunal.
Ex-marido confessa
Durante audiência nesta semana, Dominique, agora ex-marido de Gisèle, reconheceu os crimes, afirmando ser um “estuprador”. “Ela não merecia isso, eu reconheço”, disse ele, implorando a Gisèle e aos três filhos por perdão.
Fonte: Ponta Negra News.
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